O que é um encontro?
Segundo o dicionário o encontro é uma casual posição face a face com uma
pessoa ou coisa. Pode ser também ligação,
união.
Partindo destes significados quero aprofundar mais sobre o tema proposto
para partilharmos nestas páginas. Todos nós já tivemos um encontro na vida,
seja de negócios, pra conhecer uma pessoa, encontro de famílias, de amigos. O
fato é que já nos encontramos e fomos encontrados em diversas circunstâncias,
em casamentos, festas, aniversários, velórios, entre risos e lágrimas e cada
encontro deixa uma saudade, uma dor, uma alegria ou uma esperança ou ainda um
vazio.
E neste exato momento que está lendo este texto, como você se encontra? Triste,
abatido, feliz, cheio de esperança, realizado ou sem rumo? Que tipo de encontro
tem buscado e esperado em sua vida? Um encontro de amor, de um ente querido que
mora longe ou do amigo que partiu? Muitos
esperam no leito o encontro com a morte e outros o encontro com a vida, pois
caminham lado a lado com a morte.
Na verdade cada encontro é bem pessoal. Cada um reage de uma maneira em
um mesmo tipo de encontro. Quando alguém encontra o emprego dos seus sonhos
costuma pular de alegria, outros apenas sorriem, outros ainda ficam tão
pasmados e parecem não acreditar no que está acontecendo e assim por
diante. É uma emoção ímpar, um
sentimento de desejo realizado, de felicidade no ar.
Achei interessante o significado de união,
ligação, pois realmente acontece assim. O que acontece quando o rio
encontra o mar? Por mais diferente que sejam acabam se unindo. Quando a chuva
encontra com a terra se une e faz o barro, a lama. Quando se constrói uma ponte
sobre um rio ela encontra o outro lado da margem fazendo uma ligação. Quando um homem e uma mulher
se encontram apaixonados se unem em matrimônio.
Falei de todos estes encontros para termos uma idéia bem explanada sobre
o que é um encontro, como acontece e o que nos proporciona cada tipo de
encontro para depois perguntar o que é um encontro com Deus? Você já o
encontrou? Como foi?
Cada encontro nos proporciona algo e o encontro com Deus nos leva ao
encontro de nós mesmos, com todas as nossas misérias e imperfeições, nos leva a
uma vida nova, a amar o próximo e acolhê-lo em nosso coração. Quando a pessoa
encontra Deus já não é mais a mesma e passa a querer o que Deus quer, sente o
desejo de viver uma perfeita união com Ele. Quando se tem um encontro com Deus
não precisa sair gritando pra todo o mundo ouvir. Suas atitudes falarão por si
mesmas, pois o velho dará lugar ao novo; e nesta união com o Pai buscará sempre
a implantação do seu reino, será movido pelo Espírito Santo. Caindo se
levantará, transgredindo buscará reconciliação porque não conseguirá viver
brigado com o Grande amigo, sentirá falta de sua voz, de seu abraço de pai, e
jamais será feliz longe dele. Pode ter
ilusões de felicidade, mas feliz mesmo só caminhando lado a lado com Deus. E
essa descoberta é fascinante e nos impulsiona cada dia mais a seguir firme
nesta união e levar mais pessoas a ter esse encontro pessoal com o Pai. Este é
o objetivo deste livro, portanto espero que ao final da leitura o leitor já
esteja nos braços de Deus.
1 – O
meu encontro com Deus
Eu nasci num lar católico e desde cedo fui inserido
na igreja, recebendo os sacramentos iniciais e com o passar dos anos ao sair da
casa de meus pais eu conheci o mundo e no mundo conheci muita coisa maravilhosa, muita coisa bonita,
prazeres, vícios. Acabei me afastando de tudo aquilo que aprendi na minha
infância, afastei da casa de Deus, do seu coração e por desviar do caminho que
Ele havia planejado pra mim, acredito que deixei de receber muitas bênçãos, não
por castigo, mas não ter permitido que Ele me guiasse. “Assim diz Javé, o redentor de você, o Santo de Israel: Eu sou Javé, o
seu Deus, que ensino a você para o seu bem e o guio pelo caminho que você deve
seguir.” (Is. 48,17). Fui surdo ao seu apelo, usei o meu livre arbítrio e
rejeitei os planos Dele pra mim, então com sua permissão de pai amoroso que não
nos aprisiona eu mergulhei no vício. “Se
você tivesse obedecido aos meus mandamentos, sua paz seria como rio e sua
justiça como ondas do mar...” (Is. 48,18). E perdi minha paz mesmo. Longe
dos meus pais, dos amigos, numa capital... Não encontrei o que procurava; afastei-me
da vida; mesmo indo vez ou outra à igreja, me sentia vazio e só o álcool me
satisfazia e tornava possível pra mim todas as coisas.
Acredito que Deus com seu amor de Pai tenha me
mandado muitos anjos para me resgatar, mas minha cegueira os impediu de ver,
tenho certeza que muito me falou pedindo pra voltar, mas eu só ouvia a voz do
mundo e mais me afundava na bebida. Aos poucos fui ficando deprimido e não
conseguia mais trabalhar sem me embriagar primeiro. Quando ficava sóbrio eu via
a loucura que eu estava fazendo, percebia que tudo estava dando errado, que
meus passos estavam me levando para um caminho que não sonhei e nem foi
ensinado por meus pais e aquilo me devorava por dentro e a forma de esquecer
era beber, pois o álcool me fazia viajar e esquecer todos os problemas.
Um dia decidi voltar pra minha cidade. Pedi demissão.
Mas eu não sabia como voltar daquele jeito pra casa. Não queria que meus pais
sofressem, mas não queria morrer longe deles, não queria aquela vida pra mim,
mas estava sem forças, perdido. Chamei alguém que eu considerava como amigo,
alguém que dividiu muitos copos de cerveja comigo. Queria desabafar, falar o
que eu estava vivendo, falar das minhas angústias, dos meus sonhos desfeitos.
Na verdade era um pedido de ajuda, ou melhor, um grito de socorro, mas “meu
amigo” não foi capaz de me ouvir. Uma lança atravessou meu peito naquele
momento e embalado pelas sugestões do inimigo que me espreitava eu tomei alguns
remédios misturados em bebida para por fim a todo aquele sofrimento. Mas nada
me aconteceu naquele dia.
Um dia depois quando entrei no ônibus de volta pra
minha cidade comecei a passar mal. Uma cólica abdominal que parecia me matar.
Era véspera do dia das mães, a páscoa tinha acontecido naqueles dias e uma
linda moça sentava ao meu lado e comia um ovo de chocolate. Ofereceu-me, mas
recusei. Eu tentava a todo instante segurar aquela dor e suportá-la. Não queria
alarmar ninguém naquele ônibus. Nem pude desfrutar da companhia daquela bela
jovem que dividia a cadeira comigo. Quando cheguei à cidade onde mora minha
irmã, fui direto para o hospital. Não conseguia andar tamanha a dor que eu
sentia. Ela e meu cunhado não entenderam nada, mas me levaram imediatamente
para o pronto socorro. Eu não tive coragem de lhes contar nada. Eu estava
sóbrio e a vergonha tomou conta de mim. Sentia-me um lixo, um ingrato e temia
encontrar meus pais que moravam numa cidade próxima.
Fiquei em observação tomando soro, fiz vários exames
e não detectaram nada. De madrugada tive uma forte diarreia e no outro dia a
dor já não me incomodava tanto. Era o dia das mães. Não queriam me dar alta,
tive que assinar um termo pra me liberarem. Assinei e fui encontrar os meus pais
e comemorar o dia das mães. Foi tão emocionante aquele reencontro. Verti
algumas lágrimas. Primeiro por ver meus amados pais, depois por estar vivo, de
arrependimento. Eu os olhava e pensava: “Se souberem o que tentei fazer morrem
de desgosto”. Aquilo me martirizava e me machucava como um punhal que fere a
carne. Eles que sempre tudo fizeram por mim, eles que sempre cuidaram da minha
vida e eu um ingrato que não valorizei tudo que me fizeram. Joguei fora os seus
ensinamentos em troca de um copo de cachaça, em troca de um prazer mundano.
Mas a minha fraqueza era tanta que não parei com o
vício. Fui morar na casa de minha irmã, pois meus pais moravam num sítio. Lá
fiz amizades e continuei afastado da igreja e de Deus. Saia com a turma para
beber e outras vezes era na calçada da minha casa mesmo. A minha irmã me dava
conselhos, mas soava como importunação. Chamava para eu ir à igreja com ela,
mas eu sempre dava uma desculpa. Algumas vizinhas me chamavam para ir ao grupo
de jovens, mas eu nunca fui.
Depois de um tempo voltei para meus pais e no dia do
meu aniversário os vizinhos me fizeram uma surpresa. Leram a palavra de Deus e
com um palavreado simples, pronúncias erradas mesmo de algumas palavras,
cânticos sem instrumento e pouco afinados. Nesta simplicidade eu encontrei Deus
e a emoção tomou conta de mim. Algumas lágrimas escorreram em minha face, mas
me contive e tratei logo de enxugá-las disfarçadamente, pois ainda guardava o
conceito de que homem não chora. Isto foi em outubro de 1995.
A partir daquele encontro a minha vida começou a
mudar, senti necessidade de falar de Deus para as pessoas, comecei a estudar a
Bíblia e um ardor dentro de mim me impulsionava a conhecer mais sobre Deus, sua
palavra, seus ensinamentos. Um desejo de viver constantemente em sua presença
nasceu dentro de mim. Comecei a participar de cursos de preparação para o Natal,
para a Semana Santa, e algumas vezes saía para aplicar também, como diziam na
região. Dois anos depois participei de um curso de formação jovem e me
aproximei mais ainda de Deus.
Muita coisa na igreja eu não entendia e algumas até
nem aceitava. A eucaristia, por exemplo, era algo que ia além da minha
compreensão, e por mais que eu entendesse, eu não consegui imaginar Jesus
naquela partícula tão minúscula, mas nunca duvidei da sua presença. Eu não o
sentia como via os outros comentarem. Eu olhava, olhava e não via nada além de
um pedaço de pão. Mas logo que fiz o curso, fui chamado para dar uma palestra
sobre os sacramentos. Na verdade inicialmente fui convidado a trabalhar no
curso exercendo outra função, e três dias antes o coordenador do curso me disse
que era pra eu substituir o padre naquela palestra. Pensei que ele estava
louco, mas de ímpeto respondi que sim. Fiquei apreensivo, pois no final dela
entraria Jesus para ser adorado. E as primeiras palavras seriam ditas por mim.
Como falar pra sentirem se eu não sentia nada? Mas Jesus é fantástico.
Quando me chamaram à frente, confesso que me deu uma
enorme vontade de voltar e minhas pernas pareciam amarradas uma na outra. Eu
tremia e suava ao mesmo tempo. Mas enfim consegui chegar ao final da palestra e
quando abriram as portas para o padre entrar com o ostensório, eu só via Jesus
vindo em minha direção como que perguntando: “Você está me vendo agora? Eu vim
ao seu encontro, meu filho” Eu disse algumas palavras apenas e me derramei em
lágrimas e naquele momento eu me senti abraçado, amado, acariciado e não tive
vontade de sair de perto de Jesus. Levou-me a entender o quanto me amava.
Quando tentei o suicídio, Deus não me deixou passar mal longe dos meus.
Permitiu que os remédios ingeridos com álcool só fizessem o estrago quando eu
estive a caminho de casa. Deus é Pai.
Desde então tenho trabalhado para o reino de Deus,
tenho experimentado o seu poder em minha vida de na de muitas pessoas. Luto
pela minha santidade e a dos meus irmãos. Já tive quedas e tropeços, mas eu
acredito que o que diferencia uma pessoa que teve um encontro com Deus é a
capacidade de recomeçar, a coragem de admitir os erros e a busca da
reconciliação. Como diz São Paulo, “eu sei em quem depositei a minha fé.” Por
mais árduo que pareça o meu caminho, eu sei que não estou só, ainda que eu não
o sinta, ainda que eu não o veja, ainda que eu não tenha os mesmos gozos
espirituais do início da minha caminhada, eu sei que Deus está comigo.
Eu andei por muitos caminhos, hoje ando no Caminho de
Deus e procuro não desviar dele, quero conformar a minha vontade com a Dele e
permanecer fiel. Esta é a minha vontade.
2 – O filho pródigo (Lc 15, 11-32)
Acho minha história um pouco parecida com a do filho
pródigo, embora eu não tenha pedido a minha herança, mas pelo afastamento do
pai, pela entrega aos prazeres da carne. E acredito que há muitos filhos
pródigos pelo mundo afora, uns que já retornaram ao seio familiar, outros que
ainda andam perdidos, comendo a lavagem que o mundo oferece. Este capítulo é
para você que um dia deixou o caminho de Deus para viver o seu próprio caminho,
é para você que sonha voltar pra casa, mas está sem jeito, com medo de
críticas, com medo do abraço do pai.
Conta a palavra de Deus que um homem tinha dois
filhos. Certo dia o mais novo chegou para o pai e pediu a parte da herança que
lhe cabia. Você já parou pra pensar como este filho pediu ao pai esta herança?
Será que ele chegou de mansinho ou foi arrogante? Como será que procedeu este
diálogo? Acredito que o filho tenha sido
bastante imperativo, pois como traz o texto “Pai, me dá a parte da herança
que me cabe!”. Ele foi incisivo. Não deu alternativa para o pai. Não
houve por favor, não houve será que é possível o senhor me dá a minha
parte da herança... Foi contundente
naquilo que queria: “Pai, me dá a minha
herança”. Ele deu uma ordem ao próprio pai. Inverteu
os papéis e talvez pela sua ânsia de partir nem se deu conta do que estava
fazendo, talvez nem percebeu as possíveis lágrimas nos olhos do pai ou talvez a
voz engasgada atendendo aquele pedido tão inesperado. Quantas vezes agimos
assim diante daqueles a quem amamos? Quantas vezes agimos assim quando queremos
algo? Ouvimos só a nós mesmos e nada que nos cerca tem importância, o que
importa é ir adiante em busca de meus objetivos sem se importar se alguém está
ficando ferido ou não. Com certeza aquele pai ficou sangrando de dor. O egoísmo
falou mais alto e todos os sentidos daquele jovem ficaram obscurecidos pela sua
sede de receber a herança.
Herança são os
bens recebidos de alguém após sua morte, portanto naquele momento
podemos concluir que para aquele filho seu pai estava morto. O que importava
para ele era ter o seu dinheiro na mão. Não pensou no seu irmão mais velho, não
pensou no seu pai, só em si mesmo, esqueceu talvez que o coração de seu pai
ainda pulsava, mas pra ele nada daquilo mais importava. Queria partir.
De posse da
herança ele partiu para um lugar distante. Lá esbanjou tudo numa vida
desenfreada. Aproveitou os prazeres que o mundo ofereceu. Com certeza fez
muitos “amigos” enquanto tinha dinheiro, conquistou muitas mulheres. E neste
período de fartura nem se lembrou do pai. Não é diferente com muitas pessoas
hoje em dia. Eu
vivi isso como relatei no capítulo anterior. É um mergulho no nada e cada vez
queremos mais e mais e nada nos satisfaz, por isso a necessidade de buscar mais
e mais e até nos consumirmos, até não termos mais forças físicas. Quando gastou
tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região. Ele começou então a
passar necessidade. Acabou parando num sítio onde cuidava dos porcos e a fome
era tanto que desejou comer a lavagem dos porcos, mas nem isso lhe davam.
Quando saímos da presença de Deus, deixamos um banquete para comer lavagem,
deixamos um jardim de delícias para viver num labirinto, não sabemos pra onde
estamos indo e cada caminho nos leva a um lugar diferente, a experimentar um
pecado novo, uma nova transgressão, enquanto o caminho do Pai nos leva a único
lugar: o céu.
Caindo em si
lembrou-se dos empregados do seu pai, os quais tinham pão com fartura e ele
naquele lugar distante e passando fome. Decidiu voltar. Tão logo seu pai o
avistou encheu-se de compaixão. Correu ao seu encontro, o abraçou e o cobriu de
beijos. Então o filho disse: “Pai, pequei
contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho”. O pai,
porém, pediu aos empregados que trouxessem depressa a melhor túnica para vestir
seu filho. Pediu que colocassem um anel em seu dedo e sandálias nos pés. Pediu
ainda que matassem um novilho gordo para fazer um banquete. E completou
dizendo: “Porque este meu filho estava
morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.”
Com certeza este filho ficou surpreendido com a
atitude do pai, pois quando decidiu voltar para a casa ele trazia este
pensamento em seu coração: “... vou me
levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e
contra ti; já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me com um dos teus empregados.” Imagine alguém que esperava
ser tratado como um empregado ser recebido com festa, receber roupas novas e
ser coberto de beijos e envolvido pelos braços calorosos do pai. Quanta emoção
se passou naquele instante! Eu imagino o que aquele filho sentiu ao ser
recebido sem um dedo apontado para o seu nariz. Quanta alegria ele teve em seu
coração ao receber o perdão, a misericórdia do pai! Talvez ele viesse pensando
pelo caminho como convencer seu pai para aceitá-lo de volta, talvez viesse
ensaiando a fala, trêmulo, agitado, sem graça, mas nada foi como imaginou, e
aquilo o impactou. Foi acolhido de braços abertos porque para o pai ele nunca
deixou de ser filho, para o pai ele não perdeu o valor mesmo cometendo tantos
erros, para o pai ele continuava especial e como tal deveria ser recebido.
Hoje muitos jovens perdem o jeito de voltar por medo
da rejeição, das críticas, medo do dedo apontado em sua direção, medo das
palavras duras, do castigo. Muitos pensam que não há mais retorno, que ninguém
se importa mais com eles, que já não tem mais jeito, estão perdidos e não há
mais solução para tantos erros. E com
esses pensamentos vão se enveredando cada vez mais para um caminho escuro que
leva para a morte. Mas é preciso saber que a misericórdia de Deus vai além da
nossa fraqueza e nós não a entendemos. Não importa em que caminho você tenha
andado, se quiser voltar, tenha certeza o Pai estará sempre te esperando na
varanda, no portão de sua casa e os braços estendidos para abrigá-lo em seu
peito e dizer que o ama, que nunca deixou de amar, que aceita você de volta e
que vai ajudar você. Para todo caminho há uma volta. Não tenha medo.
Se aquele jovem tivesse se apegado aos sentimentos
que tumultuavam sua mente talvez não tivesse voltado para casa. Outro fato
interessante é que ele reconheceu seus erros. E estava disposto a levar uma
nova vida, mesmo que não fosse como filho, mas queria estar perto do pai nem
que fosse como um empregado, isso lhe bastaria. Não importava ser tratado com
um servo, desejava estar de volta à casa do pai onde poderia saborear o pão com
fartura... Reconheço que o filho pródigo
era um jovem de atitude. Quando quis sair de casa foi firme em sua decisão, e
quando sentiu o desejo de voltar também não hesitou. Enfrentou o desafio
interior e retornou. É preciso atitude para mudar de vida, para retornar.
Quando o filho mais velho ao retornar do trabalho
ouviu barulho de música e barulho de dança chamou um dos criados e perguntou o
que estava acontecendo. O criado contou-lhe o que havia acontecido. Então ele
ficou com raiva e não queria entrar. O pai insistiu com ele, mas ele respondeu:
“Eu trabalho para ti há tantos anos,
jamais desobedeci ao qualquer ordem tua; e nunca me deste um cabrito para eu
festejar com meus amigos. Quando chegou este
teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho
gordo!” O pai lhe respondeu: ”Filho,
você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu, mas era preciso festejar e
nos alegrar, porque esse seu irmão
estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.” A princípio
tendemos dar razão ao filho mais velho, afinal ele que trabalhava de sol a sol,
que estava junto do pai, cuidando das suas coisas... Mas na verdade sua atitude
foi egoísta, não usou de misericórdia. Não se alegrou em ver o irmão que talvez
julgassem estar morto, não foi capaz de ver a alegria do seu pai em receber o
filho de volta, demonstrou ter um coração endurecido, incapaz de perdoar. E
quando falou com o pai nem o chamou de irmão (este teu filho), mas o pai ao dar a resposta fez questão de frisar esse seu irmão estava morto... Como se
dissesse não é apenas meu filho, é seu irmão! Seu irmão, meu filho! É seu irmão
que voltou, alegre-se comigo! Ele foi reencontrado! Você já está comigo e me
deu alegria todos estes anos, mas este teu irmão estava morto e tornou a viver,
é preciso festejar, pois há muito não o víamos.
Esse encontro do filho pródigo com o pai é um momento
único na vida daquele jovem e acredito que a partir daquele momento ele
entendeu o verdadeiro sentido da sua existência e pode experimentar
profundamente a misericórdia. Quantas jovens desejam ter esse encontro! Quantos
pais esperam ansiosos seus filhos para darem um abraço! Muitos moram sob o
mesmo teto, mas vivem em mundos diferentes, uns mortos, outros enfermos. Há um
vazio na alma que precisa ser preenchido. Há uma busca frenética para
satisfazer seus desejos, para sentirem felizes, mas em tudo que buscam não se
sentem plenamente felizes; em alguns momentos talvez, mas quando a euforia
passa o jovem vê que a alegria foi embora com efeito do álcool ou da heroína.
Então ainda em si vê suas misérias e muitas vezes lhe falta atitude para voltar
ou dar um grito por socorro!
Finalizando este capítulo quero enfatizar uma coisa:
nunca é tarde para voltar nem cedo demais para perdoar. Seja você o filho
pródigo, o irmão mais velho ou o pai, o que nos move é o amor, portanto use
sempre de misericórdia. O encontro com Deus modifica as pessoas e as impulsiona
a ir atrás daqueles que estão longe, a receber bem os que retornam, mesmo
aqueles que julgamos não merecer mais uma chance, mesmo aqueles que já
retornaram várias vezes e se sucumbiram ao pecado, mesmo aqueles que não nos
querem bem, portanto quem teve um encontro com Deus, encontrou o amor e amor
perdoa, acolhe, é paciente, tudo suporta...